Nos últimos anos, a proteína foi coroada como a grande estrela das dietas. Ela ajuda a construir músculos, aumenta a saciedade, participa de praticamente todas as funções do corpo e ainda virou protagonista de shakes, barrinhas e embalagens que gritam “high protein” por todos os lados. Mas, como toda celebridade que sobe rápido demais, a proteína em excesso também pode virar notícia pelos motivos errados, especialmente quando consumida em excesso.
Por que a proteína é tão importante?
Antes de falar do exagero, vale reconhecer o mérito. A proteína é essencial para reparar tecidos, formar enzimas e hormônios, fortalecer o sistema imunológico e manter a massa muscular. Quem pratica exercícios, especialmente musculação, realmente precisa de uma ingestão adequada para garantir desempenho e recuperação. A questão é que “adequada” não significa “ilimitada”.
A recomendação geral gira em torno de 0,8 g a 1,6 g de proteína por quilo de peso corporal ao dia, dependendo do nível de atividade física. Atletas podem chegar a 2 g/kg, mas isso é calculado com cuidado, não no chute. Ou seja: o corpo tem um limite de uso, e o que passa disso entra na fila do desperdício ou dos efeitos colaterais.
O que acontece quando temos proteína em excesso no prato?
Consumir proteína em excesso não vai, magicamente, transformar músculos em obras esculpidas pelo Michelangelo. Na prática, o corpo não tem um “estoque proteico”. Ele usa o que precisa e converte o excedente em energia ou gordura. E, além desse “desperdício metabólico”, exagerar pode trazer alguns efeitos bem menos glamourosos:
Sobrecarga nos rins
O corpo precisa eliminar o nitrogênio presente nos aminoácidos. Quando a ingestão é muito alta, a carga de trabalho dos rins aumenta. Pessoas saudáveis costumam dar conta, mas quem tem predisposição ou algum comprometimento renal pode ter problemas acelerados. É aquele clássico caso de “tô só tentando ser fitness e ganho uma consulta extra no nefrologista”.
Sobrecarga no fígado
O fígado participa do metabolismo das proteínas. Não é que comer um filé a mais vai te mandar direto pro hospital, mas longos períodos de exagero podem criar um ambiente inflamatório e exigir mais desse órgão essencial.
Constipação e desconfortos gastrointestinais
Dieta rica em proteína costuma vir acompanhada de pouca fibra, especialmente quando o consumo de carboidratos é reduzido. Resultado: trânsito intestinal mais lento, sensação de estufamento e aquela relação desconfortável com o banheiro.
Mau hálito (o famoso “bafo de academia”)
Dietas hiperproteicas, principalmente as muito baixas em carboidratos, podem levar à produção de corpos cetônicos. Eles têm um cheiro forte que lembra acetona. Charmoso? Nem um pouco.
Ganho de peso
Sim, você leu certo. Muita gente aumenta a proteína achando que isso vai “secar”. Mas proteína também tem calorias, e bastante. Passou do ponto, o excesso vira gordura. Cruel como um plot twist de novela das nove.
Deficiência de outros nutrientes
Quando a proteína domina o cardápio, espaço para frutas, vegetais, grãos e gorduras boas pode acabar reduzido. E isso abre portas para carências nutricionais que impactam energia, humor, imunidade e até pele e cabelo.
E os suplementos?
Suplementos de proteína podem ser úteis em alguns cenários: quem tem dificuldade de bater a meta diária, atletas de alta performance, pessoas em rotina muito corrida. Mas eles não são obrigatórios. E, como qualquer alimento, se forem consumidos em excesso, entram no mesmo pacote de riscos.
Além disso, suplementos mal escolhidos podem vir carregados de açúcar, adoçantes artificiais ou ingredientes de baixa qualidade — tudo isso sem a menor necessidade. A proteína funciona, mas não faz milagre.
Como saber se você está exagerando?
Alguns sinais podem indicar excesso de proteína:
- sede constante
- mau hálito persistente
- cansaço inexplicável
- intestino preso
- aumento de peso mesmo com treinos
- irritabilidade
- exames mostrando alteração na função renal ou hepática
Mas atenção: nenhum desses sinais é diagnóstico por si só. Se houver dúvida, o ideal é consultar um nutricionista para ajustar a ingestão.
O equilíbrio que realmente funciona
Em vez de apostar em uma dieta centrada apenas na proteína, o corpo funciona melhor com um mix harmônico: carboidratos para energia, gorduras boas para funções hormonais e cerebrais, fibras para o intestino, vitaminas e minerais para manter tudo redondinho.
A proteína é peça-chave, não protagonista absoluta.
Proteína em excesso nunca é o caminho
Proteína é valiosa, sim. Mas transformar cada refeição em uma “maratona proteica” não deixa ninguém mais forte, só mais cansado, pesado e, às vezes, de mau humor. O caminho mais seguro e eficiente é simples: quantidade certa, variedade de fontes e uma alimentação equilibrada. Músculos agradecem, intestino também, e seus rins ganham um descanso merecido.
Se comida é combustível, proteína é octanagem alta. Ótima para te levar longe, desde que você não encha o tanque até transbordar.
