Recentemente, o ator Bruce Willis, de 67 anos, veio a público declarar seu afastamento e aposentadoria das gravações. A notícia pegou muitos fãs de surpresa, mas nos bastidores o comportamento do ator já havia mudado bastante, inclusive com a necessidade da diminuição de falas e o uso de ponto eletrônico. O motivo da aposentadoria é o diagnóstico de uma disfunção neurológica: a afasia.
A disfunção caracteriza-se pelo acometimento das funções da linguagem e afeta a fala e escrita. Com origem neurológica, geralmente tem início entre 45 e 70 anos e suas causas estão ligadas a acidentes vasculares cerebrais (AVCs), lesões que atingem o cérebro, tumores cerebrais ou doenças degenerativas na região.
A síndrome se assemelha aos casos de Alzheimer numa fase inicial, em que os pacientes têm dificuldade em nomear objetos e apresentam dificuldades na fala e mutismo, já em estágios avançados.
“Nas afasias o indivíduo perde a capacidade de comunicar-se oralmente e algumas vezes com dificuldade de leitura, escrita e a repetição”, afirma a médica neurologista Drª. Sônia Bruck da Academia Brasileira de Neurologia.
O que é a afasia progressiva primária?
A afasia progressiva primária (APP) é uma síndrome neurodegenerativa que causa problemas na cognição afetando principalmente a memória e a capacidade de se comunicar.
A síndrome engloba diversos problemas na linguagem e pode manifestar-se de formas diferentes dependendo do comprometimento de uma das partes do cérebro, entre elas o lobo temporal e frontal.
O lobo temporal, por exemplo, é o responsável por processar as informações da audição e na codificação da memória, fundamentais para o aprendizado e na organização das informações. Já o lobo frontal é essencial para a articulação dos movimentos e no raciocínio abstrato.
Como diagnosticar a afasia progressiva primária?
O diagnóstico do distúrbio deve ser realizado através de um exame clínico com um médico neurologista, que investigará a manifestação dos sintomas no paciente e, posteriormente, um exame topográfico para identificar lesões no cérebro, além do diagnóstico etiológico com o objetivo de descobrir as causas.
Afasia tem cura?
De acordo com a neurologista, não existe a cura de afasias progressivas, mas é possível evitar uma progressão do distúrbio através do tratamento fonoaudiológico.
Já as afasias que são secundárias às lesões como o AVC, tumores e traumatismo craniano, podem ser tratadas também com a reabilitação fonoaudiológica, mas é possível ter a reversibilidade do quadro até que o paciente não apresente mais os sintomas.
Quais são as características da afasia?
Um dos principais sintomas da afasia é a dificuldade de se comunicar e a capacidade de nomear os objetos e situações à sua volta. Isto é, uma pessoa com afasia apresenta uma maior complexidade na sua capacidade cognitiva e na realização de atividades do dia a dia.
Dentre os subtipos de afasias progressivas primárias classificam-se quatro variantes que em geral apresentam os mesmos sintomas: Afasia Progressiva Primária Logopênica (APPL), Afasia Progressiva Primária Agramática (APPA), Afasia Progressiva Primária Semântica (APPS) e Afasia Progressiva Primária Mista (APPM).
“Nas afasias primárias, o paciente apresenta diferentes graus de acometimento tanto da parte verbal quanto da compreensão, da capacidade de repetir, escrever ou de reconhecer estímulos visuais. Na afasia primária variante semântica, por exemplo, o paciente tem uma dificuldade no reconhecimento dos objetos, assim como de rostos conhecidos.”
Quais são os tipos de afasia?
As afasias abaixo têm relação às causas secundárias ligadas à lesões no cérebro ou ao AVC e as mais conhecidas são:
Afasia de Broca
Afasia de Wernicke
Afasia de Condução
Afasia Global
Afasia Anômica
Afasia de Broca
Neste tipo de afasia, o principal sintoma é o comprometimento da expressão e na capacidade do indivíduo formar palavras, por isso sua incapacidade de se comunicar e conseguir articular um pensamento ao falar com outras pessoas.
Mas a compreensão das palavras não é afetada, apenas a pronúncia e formas de se expressar.
Afasia de Wernicke
Na afasia de Wernicke, o paciente consegue pronunciar as palavras, mas não consegue compreendê-las. A comunicação feita por escrita pode ser muito prejudicada, já que todo diálogo fica comprometido com o entendimento.
Afasia de Condução
Ocorre quando lesões comprometem áreas intermediárias entre as regiões de Broca e Wernicke, responsáveis pela fala e expressão. Na afasia de condução, o sintoma mais comum é a dificuldade de repetição dificultando que o paciente consiga reproduzir o que foi dito por outros indivíduos.
Afasia Global
A afasia global compromete diversas partes do cérebro e, por isso, o paciente tende a apresentar comprometimento tanto na recepção das informações quanto na expressão. Esse tipo de síndrome ocorre quando lesões atingem o lobo temporal esquerdo e frontal.
Afasia Anômica ou Nominal
A principal dificuldade do paciente com afasia anômica é a capacidade de nomear objetos e expressar o que deseja, principalmente verbos e substantivos. As causas encontram-se em lesões que atingem partes do hemisfério esquerdo e em alguns casos o hemisfério direito do cérebro.
Os exames mais recomendados para o diagnóstico de afasias são a tomografia computadorizada e a realização de ressonância magnética.
Prevenção
Segundo a Drª. Sônia Bruck, quando se fala de doenças neurodegenerativas o objetivo é adiar o início do quadro.
“Essa premissa é realizada em diversas doenças neurodegenerativas cerebrais como Alzheimer, Parkinson e demência frontotemporal em que uma boa qualidade de vida e hábitos saudáveis irão realizar a prevenção dos sintomas”, disse a médica.
Além disso, é essencial redobrar os cuidados com doenças que provocam riscos vasculares como a hipertensão, diabetes e hábitos como o tabagismo. A médica recomenda ainda
a prática de exercícios físicos e a realização de atividades cognitivas intensas que ajudam a melhorar a memória e adiar, por exemplo, a idade em que as afasias se manifestam.
Nas afasias progressivas primárias a noção de prevenção não é tão clara, mas é essencial para a saúde do cérebro o tratamento de doenças coexistentes, entre elas a diabetes, hipertensão e alterações do colesterol.
Tratamento
O tratamento de afasias deve ser realizado por meio de uma equipe multidisciplinar capaz de cuidar individualmente de todos os aspectos que comprometem a qualidade de vida do paciente. Durante o acompanhamento, diversos profissionais podem ser envolvidos, entre eles psicólogos, neurologistas e a realização de terapia da fala.
Na afasia, poucas medicações têm impacto na cognição e, na avaliação clínica, alguns medicamentos são usados para atuar em problemas comportamentais que afetam os pacientes, como depressão, agitação e irritabilidade.
